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terça-feira, 12 de junho de 2012

BEM-VINDO AO MUNDO DA FICÇÃO CIENTÍFICA

Em 1964, o visionário professor Marshall McLuhan disse: “na espaçonave Terra, não há passageiros; somos todos tripulação”. Impressionante a nitidez da fala do pesquisador canadense, que estaria com um século de vida esse ano, em delinear uma visão tão lúcida e contemporânea como essa já na década de 1960. E essa sua célebre frase traduz de maneira muito pertinente o verdadeiro universo de ficção científica em que vivemos hoje. Não somos passageiros passivos e olhando pela janelinha dessa imensa espaçonave, mas sim seres humanos altamente participativos, prontos para performar e modulando o tempo todo a cena em que estamos inseridos.

Vivemos em um planeta conectado, mas norteado pela constante interrupção. Ao mesmo tempo em que estamos hiperconectados, somos interrompidos por toques, notificações, pop-ups, sirenes e alarmes. Estamos em um mundo veloz, sintético e ansioso, regido por 140 caracteres. Concentrar-se por mais de 20 minutos em uma única atividade é tarefa para poucos. Os jovens, ou nativos digitais, só conseguem ser criativos com 17 abas abertas em suas telas, com a TV ligada, atirando passarinhos com um estilingue e com iPod no ouvido para nossa alegria. Nascemos em uma era analógica e estamos migrando para uma digital, na qual eles já nasceram.

Estamos entrando, de modo contundente, em uma nova cultura do espetáculo, da configuração da economia, da sociedade e da política, que envolve novas formas culturais e modelos de experiência. “A chamada era da informação é, na realidade, a do excesso de informação”, disse, com muita serenidade, Paulo Vaz, pesquisador da UFRJ há 10 anos.

Nosso cérebro e nossa cognição simplesmente não dão conta de tamanho volume de informação que nos tentam impactar por dia. Por exemplo, uma edição de domingo do The New York Times contém mais informação do que a absorvida ao longo da vida por um indivíduo culto no século XVIII.

Vive-se em um universo hiperconectado, onde as máquinas falam e os homens comunicam-se por meio de próteses artificiais. As novas gerações incorporam plenamente essastecnologias e as colam ao corpo como um elemento a mais de suas roupas: calças, jaquetas e mochilas são fabricados com lugar para o celular. A moda faz com que a corporabilidade abrigue as tecnologias. Quando chego diante da porta de um shopping e ela se abre sozinha, ou quando abro meu carro com o botãozinho e o bip do chaveiro, não é isso que está abrindo a porta, é meu corpo, é uma extensão do meu braço, como se eu fosse Anakin Skywalker, com uma força sobrenatural.

Bem vindo à era do YouTube, o canal de televisão mundial. O Twitter é a maturação da internet e posso me conectar e ser ouvido por qualquer pessoa do Planeta. Estamos o tempo todo diante de telas, painéis e tecnologias touch-screen e entramos no epicentro da era do consumo simbólico. Quando as pessoas adquirem um iPhone, por exemplo, estão não apenas comprando um aparato tecnológico, como também vivenciando certo estilo de vida (digital) e se inscrevendo num imaginário tecnológico que enfatiza as ideias de inovação, elegância e distinção econômica, diz com muita sabedoria o pesquisador Erick Felinto daUERJ.

As pessoas, nessa sociedade intensa e paradoxal, buscam uma fixação narcísica por meio das redes sociais, e as marcas também procuram adotar jogos discursivos sedutores nesses novos e envolventes espaços digitais, dizia também McLuhan há 50 anos. E com a explosão das redes sociais, fenômenos desse século, vemos essa sábia frase de McLuhan cristalizada de forma sublime. Esses novos ambientesvirtuais são baseados em plataformas digitais e dispositivos interativos móveis de compartilhamento de arquivos e informações são exemplos muito claros dessa condição socialhistórica imprecisa, hesitante e incompleta, complementa Felinto.

Já Sherry Turkcle, uma brilhante cientista do MIT, diz que com muita pertinência que nós estamos “always on”. E quando estamos conectados, estamos na verdade, negando uma certa solidão. Se estou sozinho em casa logado no meu Facebook, eu não estou mais sozinho, estou fazendo parte da vida de outra centena de pessoas e de forma muito íntima. A tecnologia ao mesmo tempo que nos aproxima de pessoas queridas, nos distancia delas. Outro grande pensador contemporâneo, o argentino Nestór Garcia Canclini, diz que “chega-se a fenômenos de autismo e desconexão social, devido às pessoas preferirem antes ficar na frente da tela do que relacionar-se com interlocutores em lugares fisicamente localizados”. O fato de eu estar conectado o tempo todo não significa que estou interagindo o tempo todo. E nesse universo, muito mais importante do que estarmos simplesmente presentes nas atraentes e viciantes redes sociais, é preciso saber o que fazer lá, saber estar presente de forma relevante e coerente.

Vive-se em um mundo de histórias que se iniciam e não finalizam, cada vez mais interligado por intercâmbios de ordem mercadológica. Todo mundo praticamente está ocupado all the time fazendo business com tudo: diversão, conhecimento, avatares, casamento, sexualidade, estética, reprodução, saúde, beleza, identidade, ideias. As pessoas se tornam um verdadeiro empreendimento comercial nesse novo contexto que vivemos, e com a cauda longa de Chris Anderson mais forte do que nunca. As sociedades vivem hoje um processo de reorganização, sobretudo no âmbito cultural, social, econômico e político, e fica muito evidente como esses fenômenos tecnológicos, como e explosão de redes sem fio, por exemplo, acelera a dinâmica das relações, onde posso postar tudo que eu quiser, onde eu quiser e na hora que quiser. Não queremos mais estar sucumbidos na impessoalidade massa, pois agora quero estar conectado apenas com pessoas e marcas que ajam como eu ajo.

Bem-vindo! Estamos inseridos no chamado turbocapitalismo, uma saborosa mistura de Blade Runner, com duas xícaras de Segredo do Abismo, três colheres de Avatar e uma pitada de Matrix. May the force be with us! (Marcos Hiller, coordenador do MBA Gestão de Marcas (Branding) da Trevisan Escola de Negócios (@marcoshiller) NO Portal da Propaganda)

A DEGRADAÇÃO FLORESTAL E A FEBRE AMARELA

(Texto de Elton Alisson, distribuído pela Agência Fapesp) - Nas regiões norte e sul da zona metropolitana de São Paulo, onde há fragmentos de Mata Atlântica, é possível encontrar uma espécie de carrapato, denominada Amblyomma aureolatum – conhecida como carrapato amarelo do cão –, que é um dos transmissores da febre maculosa (ou “febre do carrapato”).

Enquanto a região sul – Diadema, São Bernardo e Santo André – registra desde 1920 um grande número de casos da doença, na região norte – Serra da Cantareira , Mairiporã, Arujá e Nazaré Paulista – não há zoonose.

Estudo de pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, em parceria com a Superintendência de Controle de Endemias da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, tem uma hipótese para explicar a diferença no número de casos da doença entre as duas regiões.

Os pesquisadores observaram que a ocorrência da febre maculosa está relacionada ao estado de conservação dos fragmentos florestais nas quais está o carrapato transmissor.

As áreas nas quais os fragmentos florestais estão mais conservados e apresentam maior diversidade de espécies de animais, como as da região norte de São Paulo, não apresentam casos da doença. Já em áreas onde a vegetação foi destruída e poucas espécies de animais permaneceram, como na região sul da cidade, há maior incidência de febre maculosa.

Os resultados do estudo foram publicados no início de maio no periódicoParasitology e nortearão o controle da febre maculosa na região.

“Comparamos a diversidade de animais entre as duas regiões da zona metropolitana de São Paulo e observamos que na região norte, onde não há casos da doença, as áreas de vegetação são mais bem preservadas e apresentam maior diversidade de animais, enquanto nos municípios da região sul há áreas muito pobres em espécies de animais. Isso pode ser um fator de prevalência da doença”, disse Maria Halina Ogrzewalska, autora da pesquisa, à Agência FAPESP.

De acordo com a pesquisadora polonesa, que realizou o projeto com Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP , em fragmentos florestais bem preservados e com grande diversidade de espécies, o carrapato Amblyomma aureolatum parasita diferentes tipos de animais silvestres, como esquilos, aves e ratos, cuja habilidade de transmitir a bactéria Rickettsia rickettsi varia.

Já nos fragmentos florestais mais degradados, onde boa parte dos animais desapareceu por consequência da destruição ambiental, os pesquisadores suspeitam que há uma chance maior de o carrapato parasitar espécies generalistas, que podem ser justamente os animais com maior capacidade de infectá-los com a bactéria causadora da febre maculosa.

“A maior diversidade de espécies de animais silvestres de uma região diminui a possibilidade de o carrapato se infectar com um patógeno, porque ele tem maior chance de se alimentar de um animal com baixa capacidade de amplificar a bactéria, o que resulta em menores taxas de infecção entre os carrapatos na região. Isso pode ser um dos fatores pelos quais em regiões de mata bem preservada não há registros de casos de febre maculosa”, apontou Ogrzewalska.

A doença é transmitida para os humanos por meio de carrapatos de cães domésticos, que ficam soltos nas comunidades situadas em bordas de mata, como as na periferia da região metropolitana de São Paulo.

Ao entrarem na mata, os animais podem ser parasitados pelo carrapato e levá-los para dentro das casas, onde podem picar e infectar pessoas com a bactéria causadora da febre maculosa.

Porém, os cães domésticos possuem anticorpos específicos contra a bactéria Rickettsia rickettsi e, em função disso, geralmente não adoecem e apresentam cura espontânea. Por isso, são considerados ótimos “sentinelas”.

Já em humanos infectados, se não forem tratados a tempo, a febre maculosa pode ser letal. “Estimamos que, nessas áreas da região metropolitana de São Paulo que registram casos da doença, se os pacientes não forem tratados a tempo a letalidade pode chegar a quase 100%”, disse Adriano Pinter, pesquisador da Sucen.

Para avaliar se havia diferenças no número de casos da doença e na diversidade de animais hospedeiros do carrapato nos fragmentos florestais das regiões norte e sul da região metropolitana de São Paulo, os pesquisadores realizaram ao longo de um ano coletas de animais silvestres e cães domésticos.

As coletas foram feitas nos municípios de Diadema, São Bernardo, Santo André, Mairiporã, Arujá, Nazaré Paulista e na região do Horto Florestal, na zona norte da capital, de modo a estudar os carrapatos presentes e verificar se estavam infectados pela bactéria.

As análises em laboratório revelaram que os carrapatos coletados em São Bernardo e Diadema estavam infectados pela Rickettsia rickettsi e que os cachorros capturados nos dois municípios também apresentavam a doença, detectada pela presença de anticorpos na corrente sanguínea.

Já os carrapatos e cães capturados em Mairiporã, Arujá, Nazaré Paulista e na região do Horto Florestal e em Santo André não apresentaram a bactéria. O que, no caso de Santo André, foi uma surpresa para os pesquisadores.

“Nós também esperávamos encontrar a doença em Santo André, que está em uma área consagrada de transmissão da febre maculosa e localizada a apenas 4 quilômetros de distância de outro fragmento florestal onde foi detectada a presença da bactéria”, afirmou Ogrzewalska.

Ao comparar o estado de preservação do fragmento de floresta de Santo André com o dos outros seis municípios avaliados no estudo, os pesquisadores observaram que ele era muito mais parecido com o da região norte, em termos de diversidade de espécies de animais silvestres.

Além disso, o fragmento de floresta de Santo André era menos isolado do que os outros da região sul – que são menores e espaçados uns dos outros –, possuindo corredores ecológicos que possibilitam o fluxo dos animais entre os fragmentos de mata.

“As áreas de pico de febre maculosa na região metropolitana de São Paulo coincindem com essas áreas de vegetação muito fragmentadas, isoladas e sem conexão entre elas, que impede que os animais possam transitar”, afirmou Pinter.

De acordo com o pesquisador, baseado nos resultados do projeto, a Sucen está analisando imagens dos fragmentos florestais de toda a região metropolitana de São Paulo para encontrar áreas com o mesmo perfil de fragmentação das áreas estudadas com a presença da doença para que possa ser direcionando o controle da febre maculosa.

O artigo Epidemiology of Brazilian spotted fever in the Atlantic Forest, state of São Paulo, Brazil (doi:10.1017/S0031182012000546), de Ogrzewalska e outros, pode ser lido por assinantes de Parasitology em http://journals.cambridge.org/action/displayAbstract?fromPage=online&aid=8560121&fulltextType=RA&fileId=S0031182012000546.

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